26 de fevereiro de 2013

Desligamento do projeto político liderado por Marina Silva


Em 14 de janeiro de 2013, por razões de natureza ética, desliguei-me do projeto político programático liderado por Marina Silva, em favor do qual dediquei, nestes últimos três anos, desde o início de 2010, parcela de meu tempo.

14 de janeiro de 2012

O encontro incomum entre o amor e a ternura


Para muito além da política, seguem palavras finais do filme "Minhas Tardes com Margueritte", que recomendo:

“Foi um encontro incomum entre o amor e a ternura. Ela não tinha outro endereço, ela tinha nome de flor e vivia entre palavras, adjetivos esmerados, verbos que cresciam como a grama. Alguns ficavam. Entrou suavemente desde a carcaça até o meu coração. Nas histórias de amor, há somente amor, às vezes não existe sequer ‘eu te amo’. No entanto a gente se ama. Foi um encontro incomum, a conheci por acaso no parque, ela não ocupava muito espaço, não mais que o lugar de uma pomba com as suas pequenas penas. Ela estava no meio de palavras, palavras comuns como eu. Deu-me um livro, depois outro, e as páginas explodiam aos meus olhos. Não morras ainda, há tempo, espera. Ainda não é a hora minha pequena flor, dá-me um pouco mais de ti, dá-me um pouco mais da tua vida.”

8 de janeiro de 2012

Antropolítica (por Edgar Morin)


A seguir, um extrato de pensamento do escritor EDGAR MORIN. Logo após, uma breve palestra sua:

ANTROPOLÍTICA

A pátria terrestre não é abstrata, pois a humanidade se originou dela. O próprio de tudo o que é humano é a unitas multiplex – unidade genética, cerebral, intelectual, afetiva do homo sapiens demens que expressa suas inumeráveis virtualidades por meio da diversidade das culturas.

A diversidade humana é o tesouro da unidade humana que, por sua vez, é o tesouro da diversidade humana. Daí decorre o duplo imperativo: reencontrar e alcançar a unidade humana na manifestação das diversidades. Salvar, simultaneamente, as singularidades e diversidades e instituir um tecido comum.

Assim como é necessário estabelecer uma comunicação viva e permanente entre passado, presente e futuro, é necessário estabelecer também uma comunicação viva e permanente entre as singularidades culturais, étnicas, nacionais e o universo concreto de uma Terra-Pátria que pertence a todos.

São essas as finalidades:

- [“salvar o planeta”] ameaçado por nosso desenvolvimento técnico/econômico e nosso subdesenvolvimento moral e mental;

- regular e controlar os processos desencadeados;

- repensar e reformular o desenvolvimento humano em termos adequados – nesse caso ainda respeitando e integrando a contribuição de outras culturas além da ocidental; o desenvolvimento que não se inscreve na salvaguarda do planeta e na busca consciente da hominização é insustentável;

- repensar, instaurar, restaurar, regenerar a democracia.

Um dos grandes desafios do século XXI será regenerar as cidadanias locais e gerar uma cidadania planetária, interligar nossas diversas pátrias no seio da Terra-Pátria. Ainda não se consegue regenerar uma vida democrática local, regional, na escala das cidades, nem gerar uma democracia que vá além do contexto nacional.

O caminho será longo. Trata-se de uma política histórica que se situa no tempo histórico e não mais no cotidiano, e cujo destino é modificar o curso da história.

Não sabemos se poderemos sair da Idade de Ferro planetária e da pré-história do espírito humano. Resistir a dupla barbárie tornou-se, então, uma necessidade primordial e vital. Esta resistência não é apenas uma condição de sobrevivência da humanidade, ela é necessária também para permitir um progresso da hominização. Assim, somos levados simultaneamente a resistir, conservar, revolucionar.

Civilizar a Terra, solidarizar, confederar a humanidade respeitando ao mesmo tempo as culturas e as pátrias, transformar a espécie humana em humanidade torna-se, então, o objetivo fundamental e global de toda política que aspira simultaneamente ao progresso e à sobrevivência da humanidade.

* * *

A SEGUIR, PALESTRA DE EDGAR MORIN (9 minutos):

http://www.youtube.com/watch?v=QJgDtOtf7r0&feature=related


26 de junho de 2011

Quanto à desfiliação de Marina Silva do PV (minha posição)


Manifesto a seguir meu posicionamento diante da provável desfiliação de Marina do Partido Verde.
Antes, uma passagem de uma das últimas entrevistas que ela concedeu à imprensa (O Estado de S. Paulo):
Não acha complicado demais mudar uma estrutura cristalizada em mais de duas décadas?
Se alguém tivesse me dito que, após 25 anos de existência, deve se manter uma estrutura na qual as comissões estaduais são nomeadas por um poder central, e que quem discorda dele pode sofrer ameaça, intervenção e até ser destituído, não teria me filiado.
 
Esse debate pode ter algum reflexo na eleição de 2014?
Não penso nisso. Para mim, seria mais cômodo ficar como rainha da Inglaterra, dizendo que somos todos irmãos, fazendo discurso de conveniência.
A leitura que faço de todo o processo é que toda essa confusão no PV se deve à (boa) teimosia de Marina em fazer valer no partido a democracia interna, em democratizá-lo, em torná-lo instrumento vivo e dinâmico de uma parcela da cidadania que quer participar e contribuir para a construção de um partido político com os atributos que se prometiam.
Já discordei de Marina em pelo menos um aspecto de seu passado recente (refiro-me a seu silêncio em relação a desvios éticos no partido que a projetou). Mas só a atitude dela em, desculpem-me a expressão, se "sacrificar" pela democratização do PV já me basta para a decisão de estar com ela, para onde for (pois ela realmente poderia ser, caso quisesse, a "Rainha da Inglaterra", ou melhor, a "Rainha do PV", somente a esperar 2014, sem maiores tensionamentos).

15 de julho de 2010

A NOVA IDEOLOGIA


RESSIGNIFICANDO O SENTIMENTO "VERDE" — A NOVA IDEOLOGIA 

por Marcio Bontempo

O Partido Verde brasileiro, em seu manifesto, mostra claramente que sua ideologia e princípios apresentam um conteúdo muito além de uma simples visão ambientalista. Seguindo a tendência mundial dos chamados greens, mas ampliando o seu sentido, o Partido Verde do Brasil entende e ensina que ser “verde” é muito mais do que somente atuar em defesa da natureza pelo modo trivial. Ser “verde” significa não só entender, mas redimensionar o fato de que os seres vivos são elementos interdependentes e partes da complexa trama que forma a Unidade da Vida. Significa uma percepção que tem como base a consciência e a cidadania planetárias, buscando um sentido existencial objetivo, o cultivo de valores humanistas, o crescimento espiritual e a maturidade cívica planetária.

Ser “verde” significa trabalhar para a construção de uma nova sociedade através do cultivo do senso de solidariedade, com atitudes concretas de fraternidade, ética, sensibilidade, simpatia e gentileza. O sentimento verde nos mostra que essas atitudes dependem da transformação de cada um e da expressão de nossas potencialidades internas. Somente com o cultivo da solidariedade, da fraternidade, da amorosidade, é possível criar um novo mundo, livre do sentimento fratricida, belicista e de domínio que vigora, por enquanto, na Terra.

O novo significado do sentimento verde aponta que é essencial uma nova ótica, uma nova visão filosófica que começa com o respeito e a valorização da diversidade, amplia-se na percepção da unidade da vida e contempla uma nova atitude, que tem como fulcro a redução do egocentrismo, substituído pelo altruísmo, como resultado de uma profunda revisão de nossos valores. Com isso, as nossas diferenças devem ser respeitadas, não nos afastar, mas nos unir, em puro espírito solidário e pacífico. Não adianta falarmos de paz se não a cultivarmos em nossos corações e atitudes. Fora disto, falar em paz é hipocrisia.

A nova ideologia verde está repensando a Economia, colocando-a a serviço da sustentabilidade e da justiça social, convocando todas as instituições a repensar também seus papéis na formação de uma civilização solidária que expresse suas inspirações maiores: paz, respeito mútuo, felicidade, coerência, harmonia e cooperação. O sentimento verde mostra que o futuro depende de se alcançar a genuína sabedoria espiritual, pela integração das diferentes visões, sejam religiosas, científicas, filosóficas, ideológicas, etc.

Aplicado aos vários setores da atividade humana, o sentimento verde mostra que na Educação deve-se privilegiar os valores éticos; a Economia e a tecnologia devem estar dirigidas prioritariamente para o bem-estar e as necessidades humanas; a política e o serviço público devem ter como base primordial a ética, o servir e não o “se servir”; as religiões devem estar direcionadas para a espiritualidade, a religiosidade, a tolerância, o respeito mútuo e essencialmente para a irmandade universal.

O sentimento verde é fruto do surgimento no planeta de um novo paradigma existencial, lastreado na fraternidade e na ampla proteção da vida, a partir de uma mudança individual de comportamento, com base no novo senso de coletividade e participação.

O sentimento verde é aquele que cria a consciência coletiva da responsabilidade individual e a consciência cívica planetária, capaz de eliminar todas as fronteiras, quando preponderará o sentimento libertário e se implantará a verdadeira fraternidade entre os homens, escudada no amor universal.

O sentimento verde é um estado de espírito.

O sentimento verde é a nova ideologia.


21 de maio de 2010

"O PARTIDO"


Aqui no Brasil, dois assuntos estão atualmente entre os mais comentados: a popularidade do presidente Lula e a influência política do PT. Dois assuntos, aliás, que muito nos afeta, interessemo-nos ou não por política. Não à toa o blog tem falado muito do PT e de Lula. Não só falado, como se posicionado. Pois bem. Já disse que a cada revelação do que considero constituir a verdadeira essência política do PT, aqui publicaria. E aquele que, a meu ver, tem melhor traduzido essa essência, à luz da questão democrática, é Reinaldo Azevedo. Segue texto de sua lavra, publicado em seu blog pessoal (19 de maio passado; os grifos são meus):

O LENINISMO DE MERCADO DOS COMPANHEIROS

O episódio da censura ao vídeo dos prefeitos é mais do que uma escolha, sei lá, intelectual: trata-se de uma natureza. Para “eles”, o mundo se divide em duas categorias: existem aqueles que estão sob a orientação — de preferência, o comando — do “Partido” e aqueles que não estão.

Como “O Partido”, na melhor tradição leninista, representa “a” vontade dos homens revolucionários, que têm o código do futuro, qualquer manifestação fora de seu controle representa, obviamente, uma ameaça e deve ser banida. Se “O Partido” está na oposição, cumpre mobilizar “a sociedade” contra o “estado autoritário”; se “O Partido” está no poder, aí, então, mobiliza-se o “estado autoritário” (que passa a ser “democrático”) contra “a sociedade”, que passa a ser manifestação do atraso.

Entenderam como funciona?

Em qualquer dos casos, quem se ferra é a liberdade, já que o único espaço legítimo de divergência passa a ser aquele que existe no ambiente do próprio “Partido”. Nesse particular — e em muitos outros particulares… —, o PT ainda é um partido leninista, sim. Pouco importa se passou a conviver com a economia de mercado. Ou, melhor ainda, pouco importa se hoje se considera o gerente, o condutor, o ente de razão da economia de mercado — com todas as delícias que isso implica.

O que o PT herdou do bolchevismo — e poderia ter herdado do fascismo, porque daria na mesma — é o ódio à liberdade; é a repulsa a tudo aquilo que representa “o outro” — que, de fato, são “os outros”, já que a graça está na diversidade. Não para eles! A única diversidade possível é aquela reunida no “Partido”.

Sei por que se irritam comigo; sei por que tentam me enredar em suas histórias escabrosas. Não é porque eu denuncie esta ou aquela falcatruas — dedico-me pouco a isso; não é porque eu revele as suas ineficiências. Mas é porque eu exponho a sua filiação ideológica e o risco que representam não ao capitalismo, mas à democracia!

Censurar um vídeo como o que vai abaixo evidencia que Dilma saiu da VAR-Palmares, mas a VAR-Palmares não saiu de Dilma.

Quando ela pertencia àquela organização terrorista (desculpo-me por não chamar de “revolucionária” a morte de inocentes, tá?), julgava ter a forma do futuro. E julga ainda. Por isso não pode conviver com a crítica, esteja ela certa ou errada. Se está fora do ambiente do “Partido”, estará sempre errada.

CONTRA O ABSOLUTISMO DA MARQUETAGEM


Segue uma nota da colunista política d'O Estado de S. Paulo Dora Kramer (publicada em 7 de maio passado), com a qual concordo inteiramente, e que serve muito bem ao candidato estilo biruta, ou seja, aquele que se posiciona ao sabor dos ventos (muito comum, aliás):
Baixa intensidade. No afã de tentar agradar a todos ao dizer que não é "de oposição nem de situação", o tucano José Serra flerta com o risco de desagradar ao eleitorado que prefere gente de perfil bem nítido; seja carne ou peixe, mas de contornos bem definidos.
Pode até não ser o jeito mais cosmopolita de ser, mas face à maneira brasileira, a declaração de Serra soa artificial, ensaiada demais e apaixonada de menos.
Sou dos que gostam de candidatos de perfis nítidos, que não se rendem ao que dizem as pesquisas de opinião. Acontece que, no mundo político, como regra, a sede de poder é imensa. Logo, imenso também o potencial para enganar o eleitor.

Perder eleição não é feio. Feio é compactuar com o artificialismo e a mentira. Um dia o destino cobra a conta.

POLÍTICA EXTERNA DE LULA: ALÉM DAS APARÊNCIAS (OU DA PROPAGANDA)




Até que a ação da máquina de propaganda petista em comparar Lula a, sei lá, Gandhi surta resultados, estou aqui novamente a estranhar o suposto pacifismo do atual governo brasileiro nas relações internacionais, ou a busca da justiça nessas relações. Estranhamento que advém da última performance de Lula no palco internacional, tentando resolver o imbróglio nuclear no Irã. Baseio-me em três textos de Reinaldo Azevedo (de seu blog pessoal, todos do dia 19 de maio passado), transcritos a seguir. Os dois primeiros sobre o tal acordo Irã/Brasil/Turquia; o terceiro sobre os desastres da diplomacia lulista desde 2003.
Luiz Inácio Lula da Silva tornou o mundo mais seguro!
É verdade! Acreditem em mim! Não fosse a decidida, pertinaz, corajosa, ousada, fabulosa, estonteante estréia do Babalorixá de Banânia no miolo mesmo da principal questão de segurança hoje no mundo, o consenso das cinco potências para impor sanções ao Irã demoraria um pouco mais. Mas “o Cara” agiu, e os EUA decidiram calciná-lo e apressar a aprovação de sanções! Quem disse que Lula não dá uma dentro no cenário externo?

Sim, queridos, as sanções demorariam um pouco mais. Mas aí um grupo de gênios brasileiros — em que se destacam, além do próprio Grande Morubixaba, inteligências estratégicas como Samuel Pinheiro Guimarães, Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia — decidiu que os filósofos já haviam pensado demais o mundo; era chegada a hora de transformá-lo. Como vocês sabem, a sacada é de Karl Marx, certamente formulada num momento em que os furúnculos no traseiro lhe doíam terrivelmente. Ajeitou a sentada sobre a banda direita; incomodou; sobre a esquerda depois, continuou a incomodar. Então ele disparou aquele repto contra o pensamento. Fosse um existencialista, poderia ter escrito: “Como ser feliz com tanta dor?” Mas era um materialista dialético, né? Então se saiu com essa brutalidade!

A formosura daquele pensamento atravessou a história, fez seu ninho no Itamaraty e instruiu a aventura do Grande Negociador! E Lula, então, foi ao Irã, com seu “papo pra lá de Teerã”, e negociou a paz. Seus aloprados tinham resolvido que já era hora de tomar os destinos da segurança mundial nas mãos, tanto as dianteiras como as traseiras. Deu do que deu!

A ironia de Obama, quando declarou o seu “Ecce homo” (”Esse é o Cara!) sobre o político mais popular da Terra, finalmente se revela. Em menos de 24 horas, os Estados Unidos e os outros quatro com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU submeteram Lula e seus aloprados de gravata ao ridículo. Celso Amorim pode incluir mais esta derrota (ver abaixo) à sua formidável coleção de trapalhadas. Lula, o Bibelô da Nova Ordem Internacional, é, hoje, só um senhor patético, que resolveu brincar com o perigo, sem se dar conta do salseiro em que estava se metendo.

O que esperar de alguém que senta ao lado de Medvedev, uma invenção de Vladimir Putin, herdeiro das aspirações imperiais tanto da velha Rússia como da extinta União Soviética, e deita proselitismo contra, nas suas palavras, “a invasão da Rússia do Afeganistão”. Se os russos soubessem que isso, em português, está mais para o russo, certamente teriam se divertido um tanto. Aliás, em Moscou, ele já havia desenhado um plano para a paz no Oriente Médio — que incluía o… Afeganistão!!! A geografia não é um limite para o pensamento criativo! Lula já havia “atravessado o Atlântico” para chegar aos EUA…

O Babalorixá de Banânia merece o Prêmio Nobel da Paz! Como, ao tentar proteger Mahmoud Ahmadinajed, colega com quem trama a Nova Ordem Global, ele conseguiu apressar o consenso sobre as sanções, temos, então, que Lula colaborou de maneira decidida para encostar o facinoroso contra a parede. Agora só falta aquela colunista escrever que tudo foi rigorosamente combinado com Barack Obama… Afinal, ela havia feito essa descoberta quando o presidente do Irã visitou o Brasil. Segundo asseverou então, Lula cumpria uma missão passada pelo presidente americano. No dia seguinte, Obama enviou uma carta esculhambando o governo brasileiro.

Vocês querem o quê? Lula é um clichê. Quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza. Meu bisavô tinha outra frase, não muito elegante, que recende a certo ruralismo. Vou torná-la mais familiar: “Quem nunca viu aquele monossílabo de duas letras da anatomia humana, quando vê, pensa que o dito-cujo é uma cidade”.

Já escrevi sobre a reação patética de Amorim, que pode ser definido como a menor distância entre o fígado e o cérebro. Ontem, na TV, apareceu Marco Aurélio Garcia, com esgares de insatisfação, virando os olhos — mais ou menos, suponho, como Marx naqueles momentos terríveis — a fazer ameaças: “Se os EUA optarem pelas sanções, vão se dar mal. Vão sofrer uma sanção moral e política”. A Casa Branca tremeu. É mesmo? De quem? Deixe-me ver… Do Brasil, da Venezuela, da Bolívia, do Equador… A Turquia só está esperando alguma facilidade da União Européia para cair fora.

O Brasil se isola de tal maneira na questão que a embaixadora do país na ONU, Maria Viotti, abandonou ontem a reunião do Conselho de Segurança. Não aceita nem mesmo participar das discussões. Huuummm…O grupo reúne 15 países. São necessários nove votos para aprovar as sanções desde que não haja veto de nenhum dos cinco com assento permanente (EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha e França). Com o Brasil fora do debate e sendo a Turquia co-patrocinadora do acordo, será preciso conquistar quatro adesões entre os países restantes: Nigéria, Bósnia-Herzegóvna, México, Uganda, Gabão, Líbano, Áustria e Japão.

O Brasil foi pego de calças curtas. A reação abobalhada, a começar da de Lula, se deveu à fulminante reação das cinco potências. Só não me parece correto afirmar que é como se o Brasil jamais tivesse anunciando um acordo porque, reitero, Lula conseguiu, na prática, apressar o consenso dos grandes. Rússia e China, que mais resistiam às sanções, tiveram de escolher entra as duplas “Lula-Amorim” e “Obama-Hillary”. Imaginem a angústia…

Resta a Lula, agora, voltar ao Brasil e transformar a sua formidável derrota num ativo eleitoral, excitando o antimericanismo rombudo. O discurso do recalcado triunfante é sempre um bom lugar para esconder uma monumental derrota.

Lá fora, a máscara de Lula caiu. Agora só lhe sobrou o picadeiro da política interna.

A REAÇÃO APARVALHADA DE LULA. “FRANKLIN, CADÊ OS NOSSOS JORNALISTAS?”

Como já escrevi, a rapidez com que as cinco potências chegaram a um consenso sobre as sanções deixou o governo abobalhado, Lula inclusive. E ele começou a misturar as bolas. Incitado a falar com a imprensa, recusou! Justo quem! Limitou-se a dizer que esperava a “maturação do noticiário”. E emendou: “Quero ver tudo o que sai [na imprensa] para ver o que vai acontecer”.

Isso é Lula em tempos de Franklin Martins, com a diferença de que o mundo não está, a exemplo de boa parte da imprensa brasileira, sob o tacão da Secom. “Maturação de noticiário” é quase um jargão de assessores de imprensa e de imagem, que fazem lobby para tentar consolidar versões — mais ou menos como fizeram anteontem e ontem assessores ligados ao Itamaraty, num esforço gigantesco junto à imprensa internacional para vender um acordo que nunca existiu.

Lula se perguntava ontem, no fim das contas, o que é que tinha dado de tão errado. Onde estavam os colunistas amigos para plantar versões? E o “jornalismo” do “círculo íntimo” (!?), aquele que sempre sabe o que ele diz confidencialmente (!) a assessores? Não havia nada! Só o vexame! “Ver o que sai para ver o que vai acontecer” é coisa típica de quem supõe que pode manipular a imprensa internacional como manipula boa parte da nacional.

Como diria Marco Aurélio, o Cérbero planaltino, “pior para os EUA”, não é mesmo?

Só espero que Lula não decida retaliar as cinco potências… Ooops! Tenho uma idéia, presidente! Ameace Sarkozy com os caças suecos! Quem sabe ele troque a segurança mundial pela venda de alguns Rafales…

LISTA DE BESTEIRAS E DERROTAS DE CELSO AMORIM

O maestro do vexame de agora é Celso Amorim. Abaixo, atualizo a lista de seus desastres. Certamente falta coisa, mas vamos lá:

NOME PARA A OMC
Amorim tentou emplacar Luís Felipe de Seixas Corrêa na Organização Mundial do Comércio em 2005. Perdeu. Sabem qual foi o único país latino-americano que votou no Brasil? O Panamá!!! Culpa do Itamaraty, não de Seixas Corrêa.

OMC DE NOVO
O Brasil indicou Ellen Gracie em 2009. Perdeu de novo. Culpa do Itamaraty, não de Gracie.

NOME PARA O BID
Também em 2005, o Brasil tentou João Sayad na presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Deu errado outra vez. Dos nove membros, só quatro votaram no Brasil — do Mercosul, apenas um: a Argentina. Culpa do Itamaraty, não de Sayad.

ONU
O Brasil tenta, como obsessão, a ampliação (e uma vaga permanente) do Conselho de Segurança da ONU. Quem não quer? Parte da resistência ativa à pretensão está justamente no continente: México, Argentina e, por motivos óbvios e justificados, a Colômbia.

CHINA
O Brasil concedeu à China o status de “economia de mercado”, o que é uma piada, em troca de um possível apoio daquele país à ampliação do número de vagas permanentes no Conselho de Segurança da ONU. A China topou, levou o que queria e passou a lutar… contra a ampliação do conselho. Chineses fazem negócos há uns cinco mil anos, os petistas, há apenas 30…

DITADURAS ÁRABES
Sob o reinado dos trapalhões do Itamaraty, Lula fez um périplo pelas ditaduras árabes do Oriente Médio.

CÚPULA DE ANÕES
Em maio de 2005, no extremo da ridicularia, o Brasil realizou a cúpula América do Sul-Países Árabes. Era Lula estreando como rival de George W. Bush, se é que vocês me entendem. Falando a um bando de ditadores, alguns deles financiadores do terrorismo, o Apedeuta celebrou o exercício de democracia e de tolerância… No Irã, agora, ele tentou ser rival de Barack Obama…

ISRAEL E SUDÃO
A política externa brasileira tem sido de um ridículo sem fim. Em 2006, o país votou contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas, no ano anterior, negara-se a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia genocida, que praticou os massacres de Darfur — mais de 300 mil mortos! Por que o Brasil quer tanto uma vaga no Conselho de Segurança da ONU? Que senso tão atilado de justiça exibe para fazer tal pleito?

FARC
O Brasil, na prática, declara a sua neutralidade na luta entre o governo constitucional da Colômbia e os terroristas da Farc. Já escrevi muito a respeito.

RODADA DOHA
O Itamaraty fez o Brasil apostar tudo na Rodada Doha, que foi para o vinagre. Quando viu tudo desmoronar, Amorim não teve dúvida: atacou os Estados Unidos.

UNESCO
Amorim apoiou para o comando da Unesco o egípcio anti-semita e potencial queimador de livros Farouk Hosni. Ganhou a búlgara Irina Bukova. Para endossar o nome de Hosni, Amorim desprezou o brasileiro Márcio Barbosa, que contaria com o apoio tranqüilo dos Estados unidos e dos países europeus. Chutou um brasileiro, apoiou um egípcio, e venceu uma búlgara.

HONDURAS
O Brasil apoiou o golpista Manuel Zelaya e incentivou, na prática, uma tentativa de guerra civil no país. Perdeu! Honduras realizou eleições limpas e democráticas. Lula não reconhece o governo.

AMÉRICA DO SUL
Países sul-americanos pintam e bordam com o Brasil. Evo Morales, o índio de araque, nos tomou a Petrobras, incentivado por Hugo Chávez, que o Brasil trata como uma democrata irretocável. Como paga, promove a entrada do Beiçola de Caracas no Mercosul. Quem está segurando o ingresso, por enquanto, é o Parlamento… paraguaio! A Argentina impõe barreiras comerciais à vontade. E o Brasil compreende. O Paraguai decidiu rasgar o contrato de Itaipu. E o Equador já chegou a seqüestrar brasileiros. Mas somos muito compreensivos. Atitudes hostis, na América Latina, até agora, só com a democracia colombiana. Chamam a isso “pragmatismo”.

CUBA, PRESOS E BANDIDOS
Lula visitou Cuba, de novo, no meio da crise provocada pela morte do dissidente Orlando Zapata. Comparou os presos políticos que fazem greve de fome a bandidos comuns do Brasil.

IRÃ, PROTESTOS E FUTEBOL
Antes do apoio explícito ao programa nuclear e do vexame de agora, já havia demonstrado suas simpatias por Ahmadinjead e comparado os protestos das oposições contra as fraudes eleitorais à reclamação de uma torcida cujo time perde um jogo.


5 de maio de 2010

A JUSTIÇA E O CARA (SOBRE O PODER DO EXEMPLO)






ABRE ASPAS (ESPECIAL) — REINALDO AZEVEDO



“O PT é um organismo sem aliados, mas com subordinados. Ou eles se submetem à sua liderança, ou nada feito.” (Reinaldo Azevedo)


“Para mim, maioria não é critério para estabelecer a verdade. É por isso que é a Terra que gira em torno do Sol, não o contrário.” (Reinaldo Azevedo)


“O PT tem um norte moral: tudo o que não serve à hegemonia do partido deve ser destruído.” (Reinaldo Azevedo)


“Em matéria de virtude, o PT reivindica o monopólio. Quando se trata de crime ou vício, logo procura o ombro amigo dos adversários para dividir o peso das ilegalidades.” (Reinaldo Azevedo)


28 de abril de 2010

MENSALÃO DO ARRUDA: POR QUÊ?


Diante de qualquer caso de corrupção política, pode surgir o desafio de se entender como se chegou àquilo e, principalmente, como evitar novos casos de corrupção. Desafio esse que se apresenta em especial para estudiosos de certas áreas do conhecimento, dentre as quais o Direito e a Ciência Política. No Direito, investiga-se por exemplo a eficácia ou não das punições, ou a eficiência ou não das leis processuais. Na Ciência Política, o bom funcionamento ou não das instituições políticas. É no plano da contribuição desta última área do conhecimento que me atenho neste momento, no particular para expor, via opinião de terceiro, algumas das condições políticas que facilitaram a formação e o desenvolvimento da máquina de corrupção no Governo do Distrito Federal recentemente descoberta, que ficou conhecida (equivocadamente, a meu ver — ler parágrafo a seguir) como "Mensalão do DEM". Para isso, recorro ao cientista político Murillo de Aragão, que no artigo abaixo dá seu resumido parecer acerca do assunto. 


Antes, uma digresssão. A linguagem quer dizer muita coisa, especialmente na política. Refiro-me particularmente às designações que se consolidam na opinião pública para intitular acontecimentos e até mesmo personagens. Como exemplo, detenho-me no título "Mensalão do DEM", ou "Mensalão do Democratas". De minha parte, acho equivocada tal expressão. É bem certo que, mensalão por mensalão, o dinheiro público já foi para o ralo... O fato: o Democratas (DEM) — concordemos ou não com sua linha político-ideológica, relembremo-nos ou não de seus rolos recentes no Senado Federal (protagonizados por Efraim Morais), enfim, gostemos ou não deste partido —, por suas instâncias hierárquicas, decidiu expulsar de seus quadros todos os personagens envolvidos no caso de corrupção em foco (José Roberto Arruda, Paulo Octávio, Leonardo Prudente e Geraldo Naves). Os três primeiros só não foram expulsos formalmente porque, já sabendo de antemão o veredicto, desfiliaram-se voluntariamente. Portanto, pelo menos até o presente momento, compreendo como correto afirmar — diante das decisões tomadas, da maneira como foram tomadas (sem muita demora, inclusive) — que não houve cumplicidade do partido com os delitos cometidos nem tampouco com os envolvidos. Ponto positivo para o DEM quando decidiu pela expulsão; porém, ponto negativo quando não se antecipou aos delitos, fiscalizando os filiados ao partido, em especial os detentores de mandato. E este último aspecto, queiramos ou não, acaba, sim, por depor contra o DEM. Mas daí a se aceitar a expressão "Mensalão do DEM", penso haver uma grande distância. Inexatidão involuntária pura e simples? Ou má-fé? A mim não importa se até o Jornal Nacional também se exprima dessa maneira, ainda que inclua um "de Brasília" logo após. Entendo que mais adequada seria a expressão "Mensalão do ex-governador Arruda", ou simplesmente "Mensalão do Arruda". E antes de encerrar a digressão, lanço, como contraponto, um questionamento: e quanto à expressão "Mensalão do PT": seria ela apropriada? Penso que não seja necessário ir adiante, sem antes indagar: houve expulsão dos envolvidos? (E que não seja contada a expulsão mixuruca de um membro apenas, um mero cumpridor de tarefas, ainda fidelíssimo ao partido, a propósito.)


Retomo. No artigo a seguir, grafado em itálico (os destaques são meus), publicado originalmente no Blog do Noblat em 4 de março último, Murillo de Aragão discorre, a meu ver com propriedade, sobre as sete pragas que concorreram para a corrupção em Brasília, pragas essas que, segundo o autor, assolam a política nacional como um todo. Após o artigo, finalizo com algumas palavras.


AS PRAGAS DA POLÍTICA


Para o observador distante, é muito estranho que Brasília apresente episódios graves de corrupção como os recentemente revelados.


Esperava-se que um eleitorado mais informado e educado, próximo dos poderes centrais, estivesse melhor aparelhado para escolher adequadamente os seus governantes.


Esperava-se, ainda, que o governo central tivesse um olhar mais próximo da gestão distrital. Afinal, os brasileiros — por meio do governo federal — sustentam parte expressiva dos gastos do GDF. 
No entanto, não é difícil entender o que se passou. Brasília sofre de sete graves pragas que permitem a ocorrência continuada de episódios como o ora conhecido como Mensalão do DF.


A primeira praga é a desinformação. Por mais paradoxal que seja, Brasília é uma cidade muito mal informada sobre a política local. A televisão aberta cobre pouco e mal o que se passa nos bastidores da política. Apenas por conta da gravidade do ocorrido, deu o devido destaque.


Outro problema está na dependência financeira dos veículos locais das verbas do GDF. Tema muito delicado. Obviamente, dependendo das verbas do governo local para sobreviver, o noticiário tende a ser superficial e omisso.


A segunda praga é o corporativismo. Muito da relação entre a sociedade e o governo local se dá em torno de agendas corporativistas que, nem sempre, privilegiam o interesse público.


Não há efetiva cobrança da sociedade para que o governo local funcione melhor ou de forma mais transparente. Muitas das reivindicações referem-se a salários e benefícios, e não ao comportamento republicano do governo. Ou, pior, a conquista do poder por meio de alianças e agendas com corporações.


A terceira praga é a opacidade. A relação do GDF com os seus fornecedores é pouco clara e nebulosa. Como o GDF quase sempre controla a Câmara Distrital e o Tribunal de Contas local e, ainda, tem a imprensa quase sempre omissa ou complacente, a operação do governo é quase um segredo de estado.


A quarta praga é o desinteresse. Boa parte da elite se relaciona com o GDF como se relaciona com a administração de um condomínio. Como vivem em torno da esfera federal de Brasília, o governo local é um episódio menor e, até mesmo, suburbano.


A quinta praga é o clientelismo. A autonomia política do Distrito Federal deu vazão a uma enorme força clientelística que se alimentava com a distribuição de lotes e de outros benefícios que criaram estruturas políticas poderosas.


Todos os atores envolvidos no escândalo do Mensalão do DF têm origem nessas estruturas políticas e se mantém eleitoralmente competitivos por meio do acesso e distribuição de benefícios da estrutura pública.


A sexta praga é ausência de debate ideológico. As forças políticas de Brasília se orientam, naturalmente, pela busca do poder. No entanto, tal busca não é amparado em um debate ideológico ou programático.


Daí as coalizões serem possíveis ainda que os rótulos partidários indiquem antagonismos incontornáveis. O que explica, por exemplo, a participação do PSB e do PPS no governo Arruda? É fácil, a busca pelo poder.


A sétima praga é o desequilíbrio institucional. No DF, como em todas as unidades da federação e no poder central, o Poder Executivo predomina sobre os demais.


Não há uma situação de equilíbrio e, portanto, o GDF assume uma situação de predominância sobre todos os demais poderes em detrimento do interesse da sociedade e do fortalecimento da democracia.


Enfim, estamos, ainda, na pré-história da política. O episódio do Mensalão no DF está estruturalmente ligado às sete pragas que assolam a política nacional.


Para finalizar. Independentemente de qualquer condição facilitadora da corrupção política, é necessário que se diga: a pessoa corrompe porque quer. Simples assim. Quando alguém não quer corromper, não há sistema político que o obrigue a isso, por pior que seja tal sistema (a renegar o ditado de que "a ocasião faz o ladrão", pois o ladrão, em verdade, já existia). O argumento (quase um mantra) de que "o problema da corrupção advém do sistema político", ou de que "enquanto não se fizer a reforma política, a corrupção não terminará etc. etc.", acaba por sedimentar a ideia de que o agente do delito é um mero autômato, vítima coitada do sistema. É óbvio que os analistas honestos da questão, quando argumentam nesse sentido, querem referir-se à necessidade de fortalecimento das instituições vigentes ou de elaboração de novas leis para diminuir ao máximo a oportunidade para delinquir. Com efeito, não há como ser contra o aprimoramento das leis e das instituições políticas, e é plenamente desejável que se realizem as reformas necessárias. Mas é preciso ter cuidado em não se transformar o ladrão em vítima das circunstâncias, pois, antes de tudo, roubar é uma questão de vontade. Reparem: quantas vezes já não vimos pessoas elas mesmas suspeitas por algum ato de corrupção vociferarem o mantra acima ("a culpa é do sistema!"), ou que  determinada ação corrupta (como o caixa 2), supostamente leve, "é prática sistemática na política brasileira", a sugerir, daí, que tudo seja, digamos assim, zerado? E pobre do cidadão que se insurgir contra tais pessoas: há uma grande chance de ser acusado de golpista. 


ENTREVISTA DE REINALDO AZEVEDO


Repetindo um entendimento pessoal, acho não raro instrutivo meditar sobre alguma opinião de Reinaldo Azevedo, ainda que não se concorde com ela (ler a propósito, na barra lateral do blog, o texto "Reinaldo Azevedo e eu"). É nessa perspectiva que me permito compartilhar com vocês uma entrevista concedida pelo referido cronista político ao Canal Rural, realizada em 2/4/2010, dividida a seguir em oito vídeos de aproximadamente cinco minutos cada um. Na abertura de cada vídeo, faço um pequeno resumo do conteúdo falado, além de emitir um breve comentário pessoal (entre colchetes e em itálico).

VÍDEO 1. Reinaldo Azevedo comenta sobre a tensão existente entre os produtores rurais, de um lado, e ambientalistas, de outro. Advoga em favor dos primeiros. [De minha parte, acredito ser plenamente possível conciliar a produção agroindustrial com a preservação e a sustentabilidade do meio ambiente. Não foi possível saber se o entrevistado acredita nessa conciliação.]

http://www.youtube.com/watch?v=PkVuBlOxj_o&feature=player_embedded



VÍDEO 2. O entrevistado explica as razões pelas quais o atual governo federal persegue o agronegócio brasileiro. Afirma que Dilma Rousseff lutava contra a ditadura militar não para restabelecer a democracia, mas para substituir aquela ditadura por uma outra ditadura. [Este último aspecto é fato, não opinião.]

http://www.youtube.com/watch?v=u8lQogDa0Ac&feature=player_embedded



VÍDEO 3. Reinaldo Azevedo responde se José Serra, eleito presidente, seria capaz ou não de desmontar os núcleos hostis à produção rural. Discorre sobre o aparelhamento petista tanto do Estado como dos sindicatos. Opina sobre o porquê de os projetos de esquerda serem ruins para o país. [O entendimento sobre o aparelhamento partidário do Estado e dos sindicatos não poderia ser mais claro; e dramaticamente verdadeiro. Quanto à compreensão sobre as esquerdas, diria que é apropriada tendo como referência o PT; mas tenho minhas dúvidas se tal entendimento é aplicável a todas as esquerdas.]

http://www.youtube.com/watch?v=KpJO_CXMwOM&feature=player_embedded



VÍDEO 4. Reinaldo Azevedo tenta explicar o porquê da alta popularidade de Lula. Atribui isso à situação favorável na economia, cujas bases foram estabelecidas ao longo do governo de Fernando Henrique. Reconhece méritos a Lula porque manteve o projeto macroeconômico herdado. Fala também sobre as próximas eleições presidenciais. [De fato, o maior acerto de Lula foi manter o que ele e o próprio PT por anos atacaram — o Plano Real, o chamado tripé macroeconômico e a Lei de Responsabilidade Fiscal —, pelo menos até o lançamento da Carta ao Povo Brasileiro, às vésperas da eleição de 2002. Caso fosse aplicado o plano do PT, o Brasil quebraria, dizem os entendidos.]

http://www.youtube.com/watch?v=Jf5jULISeVE&feature=player_embedded



VÍDEO 5. O entrevistado, ainda discorrendo sobre as próximas eleições presidenciais, fala especificamente sobre Marina Silva e Ciro Gomes. [No caso de Ciro Gomes, a avaliação do cronista é certeira.]

http://www.youtube.com/watch?v=bAiKd3F6KWE&feature=player_embedded



VÍDEO 6. Reinaldo Azevedo analisa alguns aspectos do plano de direitos humanos lançado pelo governo federal no final do ano passado. Assevera que, se aprovadas as medidas tais como estão, pelo menos dois direitos constitucionais e um princípio constitucional seriam claramente afrontados — direito de propriedade, liberdade de imprensa e princípio da separação dos poderes. Entrevê a intenção de se controlar ideologicamente a imprensa e a própria educação. [A propósito da Comissão da Verdade, não comentada na entrevista — apesar de já ter sido examinada pelo cronista em seu blog —, sou favorável à sua implantação a fim de que todos os fatos do período da repressão sejam trazidos à lembrança. E vou além (numa compreensão inclusive rechaçada pelo cronista): entendo que acordos políticos de conciliação ou anistia em geral, por mais importantes que tenham sido, não devem preceder nem anular, em nenhuma hipótese, a aplicabilidade do princípio da justiça aos crimes de tortura e terrorismo.]

http://www.youtube.com/watch?v=k6SenYrmu1Y&feature=player_embedded



VÍDEO 7. Reinaldo Azevedo, além de comentar um pouco mais sobre o referido plano de direitos humanos, argumenta que o projeto atualmente defendido pelos ambientalistas seria fazer opção pela política da fome. [Se assim for, não há como ser a favor do referido projeto. Mas reitero: continuo a achar possível a conciliação dos interesses do setor produtivo com a proteção dos ecossistemas.]

http://www.youtube.com/watch?v=uqPBSAQ_nD8&feature=player_embedded



VÍDEO 8. Neste último vídeo, Reinaldo Azevedo opina sobre a recente decisão de se criar a reserva indígena Raposa Serra do Sol no norte de Roraima. Finaliza dizendo sobre o que pode definir o resultado da próxima eleição presidencial.

http://www.youtube.com/watch?v=DtNAOHi7gqA&feature=player_embedded





ABRE ASPAS



“A verdade não faz tanto bem neste mundo como as suas aparências fazem mal.” (La Rochefoucauld, 1613-1680)


18 de abril de 2010

MENSALÃO DO PT FOI EXEMPLO PARA MENSALÃO DO ARRUDA


Em foto de Fabio Rodrigues Pozzebom (ABr) — clique sobre ela para ampliar —, leia-se na faixa: MENSALÃO DO PT FOI EXEMPLO PARA MENSALÃO DO ARRUDA. Como maneira de expressar um de nossos entendimentos acerca da crise política local desencadeada pela chamada Operação Caixa de Pandora, tal imagem retrata ação do Núcleo Política e Verdade (extinto) na Câmara Legislativa do Distrito Federal, em 7 de dezembro de 2009, juntando-se, de surpresa, a presidentes e conselheiros de seccionais da OAB no ato de protocolização do pedido de impeachment do então governador Arruda, formalizado pela então presidente da OAB-DF, Estefânia Viveiros. Confira também no vídeo a seguir: http://dftv.globo.com/Jornalismo/DFTV/0,,MUL1407197-10041,00-MANIFESTANTES+SE+NEGAM+A+DEIXAR+O+PLENARIO+DA+CAMARA+LEGISLATIVA.html


DEVEMOS ACABAR COM A CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL?


Tal é o título da postagem do cientista político Leonardo Barreto, extraído de seu blog Casa de Política, que, em breves palavras, faz uma convincente defesa da existência da Câmara Legislativa do Distrito Federal, em contraposição àqueles que gostariam que essa instância legislativa fosse extinta. Eis o texto de Barreto (em itálico). Após, comento.

A crise política não significa que Brasília fracassou como projeto ético e evolutivo. Ela apenas não é uma cidade pronta. No entanto, precisamos resistir à tentação autoritária de acabar com a Câmara Legislativa e voltar à era dos governadores indicados. A rede de cortesãos montada em torno do Palácio do Buriti não é fruto da democracia. Pelo contrário. São ecos do tempo em que os governantes não eram eleitos pela sociedade.
Fechar a Câmara eliminaria a porosidade do poder. Sem esse canal institucional, restaria aos eleitores somente a antessala de espera do governador. Seríamos todos reféns de batalhões de assessores. Para sairmos da crise política não devemos buscar o fim da democracia, mas seu aprofundamento. É preciso entender que os erros e acertos fazem parte de um longo, porém inevitável, processo de aprendizagem política ao qual todas as grandes civilizações têm que se submeter.

Não se tem como negar os “horrores” de hoje e de ontem da Câmara Legislativa. Que tais horrores sejam devidamente esconjurados, mas no plano da institucionalidade democrática. É possível. Está sendo possível, graças ao contrapeso do Poder Judiciário e à fiscalização da sociedade, com a imprensa exercendo um papel fundamental.

O Poder Legislativo no Distrito Federal nem completou ainda seus 20 anos de vida. Poder Legislativo esse entendido como entidade autônoma eleita diretamente pelo povo para o específico fim de legislar na circunscrição do DF, e não como, por exemplo, Comissão do Senado, sistema que vigorou no período em que Brasília ainda não possuía autonomia política. Se é num primeiro momento compreensível a revolta daqueles que advogam pela extinção pura e simples da Câmara Legislativa (pois muitos expressam nada menos do que a inconformidade com a má aplicação e o desvio de dinheiro público), é preferível um poder cujos membros são escolhidos pelo conjunto dos cidadãos a um poder cujos membros são como que improvisados para fazer as vezes de legisladores (eleitos ou não). Sem contar quando o próprio governante é ele próprio o titular do poder legislativo, delegando ou não funções. Que seja também lembrado: a corrupção não é traço exclusivo das democracias. Ou alguém acha que não há corrupção em governos autocráticos, em regimes de força?

A análise de Leonardo Barreto serve não só para Brasília, mas para qualquer outro lugar do Brasil ou do mundo. Uma defesa, acima de tudo, da democracia como regime político.

Minha resposta à pergunta título do blog é “não!”, “não devemos acabar com a Câmara Legislativa do Distrito Federal”.


PELA LIBERTAÇÃO DOS PRESOS POLÍTICOS EM CUBA


O homem aí ao lado não está mais vivo (foto de autor desconhecido). Trata-se de Orlando Zapata Tamayo, que morreu em protesto de fome contra o governo cubano. Um pouco dessa história vocês já devem saber. Virou símbolo de resistência a um regime ditatorial. Resistência pacífica, cabe ressaltar. 

Diferentemente do presidente Lula, que declara não querer se meter nos assuntos de outros países — discurso que não combina com a prática, algo que lhe é comum (relembre-se, por exemplo, o caso de Honduras, quando expôs ao ridículo a diplomacia brasileira; leiam aqui) —, julgo que o problema de Zapata e de todos os outros 400 presos de consciência em Cuba haveria de merecer, no mínimo, uma reprovação pública do governo brasileiro. Reprovação pública que haveria de ser feita em nome justamente dos direitos humanos, que este governo diz tanto defender. Mas parece que isso não é possível. Principalmente quando Lula trata aqueles presos de consciência como bandidos comuns. Que ele pelo menos arrumasse argumentos melhores para defender o indefensável — indefensável, especifique-se, à luz da democracia e dos direitos humanos. Reflitam vocês mesmos: Lula por acaso tem compromisso com a verdade e com a coerência? De meu lado, já tenho uma convicção.

Já que o governo de meu país lava as mãos nesse assunto, recorro-me a um setor da opinião pública mundial para acrescentar minha assinatura a um manifesto virtual a favor, dentre outras causas, da libertação dos presos políticos em Cuba. Penso que tal abaixo-assinado valha muito mais pelo simbolismo da causa defendida do que pelo número de subscritores, pois não é a popularidade em si que torna uma causa virtuosa (assim também no concernente a pessoas). A história nos fornece muitos exemplos disso.


O manifesto a que me refiro está no blog #OZT— YO ACUSO AL GOBIERNO CUBANO, conforme imagem acima. O endereço é este: http://orlandozapatatamayo.blogspot.com/

Eis o teor do manifesto que abre o abaixo-assinado:

Pela libertação imediata e sem condições de todos os presos políticos das prisões cubanas; pelo respeito ao exercício, promoção e defesa dos direitos humanos em qualquer parte do mundo; pelo decoro e o valor de Orlando Zapata Tamayo, injustamente preso e brutalmente torturado nas prisões cubanas, morto após greve de fome por denunciar estes crimes e a falta de liberdade e democracia no seu país; pelo respeito à vida dos que correm o risco de morrer como ele para impedir que o governo de Fidel e Raul Castro continue eliminando fisicamente os seus opositores pacíficos, levando-os a cumprir condenações injustas de até 28 anos por "delitos" de opinião; pelo respeito à integridade física e moral de cada pessoa, assinamos esta carta, e encorajamos a assiná-la também a todos os que elegeram defender a sua liberdade e a liberdade dos outros.

Como complemento ao assunto, e para reflexão, recomendo leitura dos seguintes textos de Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes e do cubano Guillermo "Coco" Fariñas — conforme links abaixo — , este último um dos presos de consciência em Cuba, em pleno exercício de greve de fome em memória de Zapata e de sua luta. Hoje ele completa 52 dias nesse regime. Além dos links, que remetem aos textos na íntegra, separei trechos de cada um:  

TRECHOS: “Vocês estão vendo este homem? É o dissidente cubano Guilhermo Fariñas, um jornalista e psicólogo de 48 anos, que está em greve de fome desde o dia 24 de fevereiro, quando protesto idêntico matou o também dissidente Orlando Zapata. Farinãs reivindica a libertação de 26 presos políticos. Dele se pode dizer que não chupa balas Paulistinha escondido. Dele se pode dizer que não é daquele tipo de fatalista que acredita que nenhum homem pode resistir à tentação da trapaça, que não esmorece diante de um pacote de balas Juquinha; que não se queda de joelhos por um punhado de balas Toffees. [...] Como se pode notar pelo testemunho do próprio Lula, ele (Lula) trapaceou na greve de fome. [...] Lula já se mostrava o líder que viria a ser: permissivo, um tanto fanfarrão, sempre disposto a negociar com princípios, embora, para consumo público, soubesse manter exemplarmente as aparências. [...] A mitologia esquerdopata inventou um Lula com têmpera de aço, patacoada que foi repetida no filme, que naufragou — o que demonstra haver uma reserva de bom senso ao menos no público que se interessa por cinema. O episódio das balas Paulistinha diz muito de seu espetacular oportunismo. Sim, ele se alinha com o governo dos irmãos Castro e está pouco se lixando para a questão democrática, mas não é menos verdade que não consegue conceber que alguém leve adiante, com tanta determinação, uma greve de fome ou um sacrifício. Como ele não resistiu às tentações da balinha, não consegue compreender que outros o façam. [...] Fariñas é um filho do regime. Chegou a estudar na União Soviética. Seus pais foram revolucionários de primeira hora. O pai chegou a acompanhar Che Guevara na malfadada aventura revolucionária no Congo. Há 21 anos, ele milita na oposição. Já fez, nesse tempo, 23 greves de fome e passou 11 anos e meio na prisão. Por que faço essa lembrança? Os que, na democracia, lutam em favor do socialismo — ou, sei lá, daquilo que chamam “democracia popular” (e que não se distingue de uma ditadura de partido único) — o fazem segundo as garantias que lhes dá o estado de direito. E contam com mais do que isso: têm a seu favor até a leniência de agentes do estado que se negam a aplicar a lei. É o caso, por exemplo, no MST. Nas ditaduras socialistas, os que lutam por democracia arrostam com a própria morte. [...]”

TRECHOS: “[...] Durante uma demorada escala em assuntos cubanos, Lula consumou a opção pelo carrasco. [...] Promovido à categoria dos inimputáveis desde o escândalo do mensalão, Lula soube agora que só tem validade em território brasileiro o salvo-conduto que dispensa de ter juízo os bebês de colo, os doidos varridos e demais portadores. Nas democracias adultas, nenhum governante está autorizado a produzir impunemente tamanha sequência de atitudes e falatórios desmiolados. [...] Informado da morte de Orlando Zapata no 85º dia da greve de fome, usou um obsceno pronome reflexivo para transformá-lo em suicida: "Lamento profundamente que uma pessoa se deixe morrer por fazer uma greve de fome. Vocês sabem que sou contra, porque fiz greve de fome". Como se merecesse tal qualificação o anedótico jejum simulado durante uma paralisação dos metalúrgicos em 1980. "O pessoal escondia bala, acordava para roubar bolacha, uma vergonha", contou José Maria de Almeida. Lula tentou contrabandear para a cela um pacote de balas. O fim da comédia foi celebrado por carcereiros e encarcerados com um jantar de confraternização. Prato principal: lula à dorée. [...] No trato de assuntos domésticos, a aguda intuição política pode compensar carências resultantes da má formação intelectual. Pode até definir resultado de eleição. Mas não basta para determinar diretrizes da política externa. Se tivesse mais apreço pela acumulação de conhecimentos, se aprendesse a ouvir conselheiros confiáveis, Lula saberia que figuras como Gandhi e Nelson Mandela fizeram da greve de fome um instrumento de resistência. Também saberia que Herman Goering, o segundo na hierarquia nazista, tentou escapar da condenação em Nuremberg invocando o mesmo argumento enunciado por Lula. [...] Lula tem de escolher que lugar pretende ocupar na história: ao lado do carrasco ou dos injustamente condenados. Por enquanto, move-se na frente oposta à dos que lutam pela liberdade.”

Do ativista político cubano Guillermo 'Coco' Fariñas (entrevista concedida ao Correio Braziliense): https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/3/19/dissidente-diz-que-lula-e-cumplice-de-opressao
TRECHOS: “[...] O regime nos acusa de sermos mercenários. Um “departamento de mercenários” é formado por soldados capazes de morrer em um conflito, motivados por dinheiro. Que eu saiba, nenhum mercenário é capaz de morrer por suas próprias ideias, por aquilo que ele defende. Aqui, eu quero reivindicar a memória de nosso irmão de luta, Orlando Zapata Tamayo, que foi capaz de entregar sua vida. Seríamos capazes também de fazê-lo, para mostrar ao mundo que o que ocorreu a Orlando Zapata Tamayo não foi uma casualidade, mas uma generalização, que ocorre há 52 anos, nos regimes de Fidel Castro e de Raúl Castro. [...] Não analiso o papel do Brasil em relação a Cuba, mas o papel do presidente José (sic) Inácio Lula da Silva. Eu considero que Lula é tão assassino de Orlando Zapata Tamayo como são Raúl Castro e Fidel Castro. Consideramos que há uma série de cumplicidades entre a esquerda radical latino-americana e que Lula não é um verdadeiro democrata. Ele é um terrorista solapado que, devido à conjuntura histórica — não existe, nesse momento, uma Guerra Fria —, ascendeu ao poder por meio da democracia presidencialista. No entanto, Lula demonstrou que suas afinidades ideológicas estão acima da vida dos seres humanos. Lula poderia, perfeitamente, ter cancelado sua visita. Faltou-lhe respeito a um defunto, como Orlando Zapata Tamayo, ao compará-lo com os delinquentes de São Paulo. [...] Não tenho nada para pedir a Lula. Para mim, ele é um assassino, um cúmplice. O que peço ao Congresso brasileiro é que faça uma moção de censura ao presidente Lula. Peço ao povo brasileiro que não vote na candidata do Partido dos Trabalhadores (Dilma Rousseff). Se querem render homenagens a Orlando Zapata Tamayo nas próximas eleições, pedimos a vocês que não votem nela. A candidata representa o mesmo engano, hipocrisia e cumplicidade. [...] Nossa morte, para o povo de Cuba, representaria um símbolo de que não tememos o terror e estamos dispostos a oferecer nossas vidas pelo bem da pátria, pelo bem da democracia e pelo bem da Cuba e para o bem de todos. [...]”