8 de janeiro de 2012

Antropolítica (por Edgar Morin)


A seguir, um extrato de pensamento do escritor EDGAR MORIN. Logo após, uma breve palestra sua:

ANTROPOLÍTICA

A pátria terrestre não é abstrata, pois a humanidade se originou dela. O próprio de tudo o que é humano é a unitas multiplex – unidade genética, cerebral, intelectual, afetiva do homo sapiens demens que expressa suas inumeráveis virtualidades por meio da diversidade das culturas.

A diversidade humana é o tesouro da unidade humana que, por sua vez, é o tesouro da diversidade humana. Daí decorre o duplo imperativo: reencontrar e alcançar a unidade humana na manifestação das diversidades. Salvar, simultaneamente, as singularidades e diversidades e instituir um tecido comum.

Assim como é necessário estabelecer uma comunicação viva e permanente entre passado, presente e futuro, é necessário estabelecer também uma comunicação viva e permanente entre as singularidades culturais, étnicas, nacionais e o universo concreto de uma Terra-Pátria que pertence a todos.

São essas as finalidades:

- [“salvar o planeta”] ameaçado por nosso desenvolvimento técnico/econômico e nosso subdesenvolvimento moral e mental;

- regular e controlar os processos desencadeados;

- repensar e reformular o desenvolvimento humano em termos adequados – nesse caso ainda respeitando e integrando a contribuição de outras culturas além da ocidental; o desenvolvimento que não se inscreve na salvaguarda do planeta e na busca consciente da hominização é insustentável;

- repensar, instaurar, restaurar, regenerar a democracia.

Um dos grandes desafios do século XXI será regenerar as cidadanias locais e gerar uma cidadania planetária, interligar nossas diversas pátrias no seio da Terra-Pátria. Ainda não se consegue regenerar uma vida democrática local, regional, na escala das cidades, nem gerar uma democracia que vá além do contexto nacional.

O caminho será longo. Trata-se de uma política histórica que se situa no tempo histórico e não mais no cotidiano, e cujo destino é modificar o curso da história.

Não sabemos se poderemos sair da Idade de Ferro planetária e da pré-história do espírito humano. Resistir a dupla barbárie tornou-se, então, uma necessidade primordial e vital. Esta resistência não é apenas uma condição de sobrevivência da humanidade, ela é necessária também para permitir um progresso da hominização. Assim, somos levados simultaneamente a resistir, conservar, revolucionar.

Civilizar a Terra, solidarizar, confederar a humanidade respeitando ao mesmo tempo as culturas e as pátrias, transformar a espécie humana em humanidade torna-se, então, o objetivo fundamental e global de toda política que aspira simultaneamente ao progresso e à sobrevivência da humanidade.

* * *

A SEGUIR, PALESTRA DE EDGAR MORIN (9 minutos):

http://www.youtube.com/watch?v=QJgDtOtf7r0&feature=related


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