18 de abril de 2010

PELA LIBERTAÇÃO DOS PRESOS POLÍTICOS EM CUBA


O homem aí ao lado não está mais vivo (foto de autor desconhecido). Trata-se de Orlando Zapata Tamayo, que morreu em protesto de fome contra o governo cubano. Um pouco dessa história vocês já devem saber. Virou símbolo de resistência a um regime ditatorial. Resistência pacífica, cabe ressaltar. 

Diferentemente do presidente Lula, que declara não querer se meter nos assuntos de outros países — discurso que não combina com a prática, algo que lhe é comum (relembre-se, por exemplo, o caso de Honduras, quando expôs ao ridículo a diplomacia brasileira; leiam aqui) —, julgo que o problema de Zapata e de todos os outros 400 presos de consciência em Cuba haveria de merecer, no mínimo, uma reprovação pública do governo brasileiro. Reprovação pública que haveria de ser feita em nome justamente dos direitos humanos, que este governo diz tanto defender. Mas parece que isso não é possível. Principalmente quando Lula trata aqueles presos de consciência como bandidos comuns. Que ele pelo menos arrumasse argumentos melhores para defender o indefensável — indefensável, especifique-se, à luz da democracia e dos direitos humanos. Reflitam vocês mesmos: Lula por acaso tem compromisso com a verdade e com a coerência? De meu lado, já tenho uma convicção.

Já que o governo de meu país lava as mãos nesse assunto, recorro-me a um setor da opinião pública mundial para acrescentar minha assinatura a um manifesto virtual a favor, dentre outras causas, da libertação dos presos políticos em Cuba. Penso que tal abaixo-assinado valha muito mais pelo simbolismo da causa defendida do que pelo número de subscritores, pois não é a popularidade em si que torna uma causa virtuosa (assim também no concernente a pessoas). A história nos fornece muitos exemplos disso.


O manifesto a que me refiro está no blog #OZT— YO ACUSO AL GOBIERNO CUBANO, conforme imagem acima. O endereço é este: http://orlandozapatatamayo.blogspot.com/

Eis o teor do manifesto que abre o abaixo-assinado:

Pela libertação imediata e sem condições de todos os presos políticos das prisões cubanas; pelo respeito ao exercício, promoção e defesa dos direitos humanos em qualquer parte do mundo; pelo decoro e o valor de Orlando Zapata Tamayo, injustamente preso e brutalmente torturado nas prisões cubanas, morto após greve de fome por denunciar estes crimes e a falta de liberdade e democracia no seu país; pelo respeito à vida dos que correm o risco de morrer como ele para impedir que o governo de Fidel e Raul Castro continue eliminando fisicamente os seus opositores pacíficos, levando-os a cumprir condenações injustas de até 28 anos por "delitos" de opinião; pelo respeito à integridade física e moral de cada pessoa, assinamos esta carta, e encorajamos a assiná-la também a todos os que elegeram defender a sua liberdade e a liberdade dos outros.

Como complemento ao assunto, e para reflexão, recomendo leitura dos seguintes textos de Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes e do cubano Guillermo "Coco" Fariñas — conforme links abaixo — , este último um dos presos de consciência em Cuba, em pleno exercício de greve de fome em memória de Zapata e de sua luta. Hoje ele completa 52 dias nesse regime. Além dos links, que remetem aos textos na íntegra, separei trechos de cada um:  

TRECHOS: “Vocês estão vendo este homem? É o dissidente cubano Guilhermo Fariñas, um jornalista e psicólogo de 48 anos, que está em greve de fome desde o dia 24 de fevereiro, quando protesto idêntico matou o também dissidente Orlando Zapata. Farinãs reivindica a libertação de 26 presos políticos. Dele se pode dizer que não chupa balas Paulistinha escondido. Dele se pode dizer que não é daquele tipo de fatalista que acredita que nenhum homem pode resistir à tentação da trapaça, que não esmorece diante de um pacote de balas Juquinha; que não se queda de joelhos por um punhado de balas Toffees. [...] Como se pode notar pelo testemunho do próprio Lula, ele (Lula) trapaceou na greve de fome. [...] Lula já se mostrava o líder que viria a ser: permissivo, um tanto fanfarrão, sempre disposto a negociar com princípios, embora, para consumo público, soubesse manter exemplarmente as aparências. [...] A mitologia esquerdopata inventou um Lula com têmpera de aço, patacoada que foi repetida no filme, que naufragou — o que demonstra haver uma reserva de bom senso ao menos no público que se interessa por cinema. O episódio das balas Paulistinha diz muito de seu espetacular oportunismo. Sim, ele se alinha com o governo dos irmãos Castro e está pouco se lixando para a questão democrática, mas não é menos verdade que não consegue conceber que alguém leve adiante, com tanta determinação, uma greve de fome ou um sacrifício. Como ele não resistiu às tentações da balinha, não consegue compreender que outros o façam. [...] Fariñas é um filho do regime. Chegou a estudar na União Soviética. Seus pais foram revolucionários de primeira hora. O pai chegou a acompanhar Che Guevara na malfadada aventura revolucionária no Congo. Há 21 anos, ele milita na oposição. Já fez, nesse tempo, 23 greves de fome e passou 11 anos e meio na prisão. Por que faço essa lembrança? Os que, na democracia, lutam em favor do socialismo — ou, sei lá, daquilo que chamam “democracia popular” (e que não se distingue de uma ditadura de partido único) — o fazem segundo as garantias que lhes dá o estado de direito. E contam com mais do que isso: têm a seu favor até a leniência de agentes do estado que se negam a aplicar a lei. É o caso, por exemplo, no MST. Nas ditaduras socialistas, os que lutam por democracia arrostam com a própria morte. [...]”

TRECHOS: “[...] Durante uma demorada escala em assuntos cubanos, Lula consumou a opção pelo carrasco. [...] Promovido à categoria dos inimputáveis desde o escândalo do mensalão, Lula soube agora que só tem validade em território brasileiro o salvo-conduto que dispensa de ter juízo os bebês de colo, os doidos varridos e demais portadores. Nas democracias adultas, nenhum governante está autorizado a produzir impunemente tamanha sequência de atitudes e falatórios desmiolados. [...] Informado da morte de Orlando Zapata no 85º dia da greve de fome, usou um obsceno pronome reflexivo para transformá-lo em suicida: "Lamento profundamente que uma pessoa se deixe morrer por fazer uma greve de fome. Vocês sabem que sou contra, porque fiz greve de fome". Como se merecesse tal qualificação o anedótico jejum simulado durante uma paralisação dos metalúrgicos em 1980. "O pessoal escondia bala, acordava para roubar bolacha, uma vergonha", contou José Maria de Almeida. Lula tentou contrabandear para a cela um pacote de balas. O fim da comédia foi celebrado por carcereiros e encarcerados com um jantar de confraternização. Prato principal: lula à dorée. [...] No trato de assuntos domésticos, a aguda intuição política pode compensar carências resultantes da má formação intelectual. Pode até definir resultado de eleição. Mas não basta para determinar diretrizes da política externa. Se tivesse mais apreço pela acumulação de conhecimentos, se aprendesse a ouvir conselheiros confiáveis, Lula saberia que figuras como Gandhi e Nelson Mandela fizeram da greve de fome um instrumento de resistência. Também saberia que Herman Goering, o segundo na hierarquia nazista, tentou escapar da condenação em Nuremberg invocando o mesmo argumento enunciado por Lula. [...] Lula tem de escolher que lugar pretende ocupar na história: ao lado do carrasco ou dos injustamente condenados. Por enquanto, move-se na frente oposta à dos que lutam pela liberdade.”

Do ativista político cubano Guillermo 'Coco' Fariñas (entrevista concedida ao Correio Braziliense): https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/3/19/dissidente-diz-que-lula-e-cumplice-de-opressao
TRECHOS: “[...] O regime nos acusa de sermos mercenários. Um “departamento de mercenários” é formado por soldados capazes de morrer em um conflito, motivados por dinheiro. Que eu saiba, nenhum mercenário é capaz de morrer por suas próprias ideias, por aquilo que ele defende. Aqui, eu quero reivindicar a memória de nosso irmão de luta, Orlando Zapata Tamayo, que foi capaz de entregar sua vida. Seríamos capazes também de fazê-lo, para mostrar ao mundo que o que ocorreu a Orlando Zapata Tamayo não foi uma casualidade, mas uma generalização, que ocorre há 52 anos, nos regimes de Fidel Castro e de Raúl Castro. [...] Não analiso o papel do Brasil em relação a Cuba, mas o papel do presidente José (sic) Inácio Lula da Silva. Eu considero que Lula é tão assassino de Orlando Zapata Tamayo como são Raúl Castro e Fidel Castro. Consideramos que há uma série de cumplicidades entre a esquerda radical latino-americana e que Lula não é um verdadeiro democrata. Ele é um terrorista solapado que, devido à conjuntura histórica — não existe, nesse momento, uma Guerra Fria —, ascendeu ao poder por meio da democracia presidencialista. No entanto, Lula demonstrou que suas afinidades ideológicas estão acima da vida dos seres humanos. Lula poderia, perfeitamente, ter cancelado sua visita. Faltou-lhe respeito a um defunto, como Orlando Zapata Tamayo, ao compará-lo com os delinquentes de São Paulo. [...] Não tenho nada para pedir a Lula. Para mim, ele é um assassino, um cúmplice. O que peço ao Congresso brasileiro é que faça uma moção de censura ao presidente Lula. Peço ao povo brasileiro que não vote na candidata do Partido dos Trabalhadores (Dilma Rousseff). Se querem render homenagens a Orlando Zapata Tamayo nas próximas eleições, pedimos a vocês que não votem nela. A candidata representa o mesmo engano, hipocrisia e cumplicidade. [...] Nossa morte, para o povo de Cuba, representaria um símbolo de que não tememos o terror e estamos dispostos a oferecer nossas vidas pelo bem da pátria, pelo bem da democracia e pelo bem da Cuba e para o bem de todos. [...]”



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