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Em foto de Fabio Rodrigues Pozzebom (ABr) — clique sobre ela para ampliar —, leia-se na faixa: MENSALÃO DO PT FOI EXEMPLO PARA MENSALÃO DO ARRUDA. Como maneira de expressar um de nossos entendimentos acerca da crise política local desencadeada pela chamada Operação Caixa de Pandora, tal imagem retrata atuação do Núcleo Política e Verdade (extinto) na Câmara Legislativa do Distrito Federal, em 7 de dezembro de 2009, juntando-se, de surpresa, a presidentes e conselheiros de seccionais da OAB no ato de protocolização do pedido de impeachment do então governador Arruda, formalizado pela então presidente da OAB-DF, Estefânia Viveiros. Confira também no vídeo: clique aqui
O blog pretende cumprir dois conjuntos de papéis: refletir sobre política e dela participar ativamente; perseguir a verdade dos fatos e, se capaz, revelá-la. Daí que crê ser possível compatibilizar política e verdade. O que não quer dizer compatibilizar ideologia e verdade. Num mar de ideologias, o blog vem construindo a sua. Tolera as outras visões. Mais do que isso, saúda-as. Acredita na democracia. Da verdade, nunca será o dono, mas quer, tanto quanto possível, render-lhe homenagem.
Quem sou eu
- FELIPE VARELLA
- Brasília, DF, Brazil
- 44 anos, servidor público, Ciência Política (UnB).
Núcleo Política e Verdade em uma ação
Em foto de Fabio Rodrigues Pozzebom (ABr) — clique sobre ela para ampliar —, leia-se na faixa: MENSALÃO DO PT FOI EXEMPLO PARA MENSALÃO DO ARRUDA. Como maneira de expressar um de nossos entendimentos acerca da crise política local desencadeada pela chamada Operação Caixa de Pandora, tal imagem retrata atuação do Núcleo Política e Verdade (extinto) na Câmara Legislativa do Distrito Federal, em 7 de dezembro de 2009, juntando-se, de surpresa, a presidentes e conselheiros de seccionais da OAB no ato de protocolização do pedido de impeachment do então governador Arruda, formalizado pela então presidente da OAB-DF, Estefânia Viveiros. Confira também no vídeo: clique aqui
PDT: da dissidência à desfiliação (e uma reflexão sobre a política do DF em 2010)
[3/3/2010] Considero-me dissidente político do PDT tanto no âmbito local como no nacional. Não creio que a aliança política com o PT — nacionalmente, uma realidade; localmente, uma tendência — seja a melhor alternativa tendo como referência a busca do interesse público. Aliás, por vários motivos, que tentarei aos poucos demonstrar neste blog, não reconheço no PT uma alternativa política virtuosa. Muito pelo contrário. Sou dos que acreditavam numa candidatura própria do partido à Presidência da República. Mas não só isso: acreditava numa candidatura que fosse de nítida oposição ao atual governo federal e cuja plataforma prestigiasse novamente (tal como em 2006) a necessária e sempre adiada reforma radical da educação pública. Uma vez afastada a candidatura própria, um caminho político que, na minha visão, homenagearia o interesse público estaria na concretização da aliança PDT-PV em torno da candidatura à presidência da senadora Marina Silva, e isso a despeito do silêncio desta, quando ainda filiada ao PT, diante da revelação de fatos que corroboravam (e ainda teimam em corroborar) o pouco apreço deste partido (PT) à ética no trato da coisa pública (há ainda quem se lembre do “partido da ética na política”?) — à diferença, por exemplo, do posicionamento tomado por Hélio Bicudo, que teve a dignidade de romper com seu ex-partido e de dizer que a ética é, sim, fundamental para o exercício da vida pública. Já no plano do Distrito Federal, penso que o PDT haveria de tomar um rumo, tanto político como eleitoral, independente da chamada “frente de esquerda”, atualmente hegemonizada pelo PT (aliás, sobre a natureza de tal hegemonia, recomendo que pesquisem a lúcida elaboração intelectual de Reinaldo Azevedo acerca do inconfessável projeto político do PT — na atual quadra histórica, pelo menos — de constituir-se no “presente eterno”, no “Moderno Príncipe”). Muitos cidadãos aqui do Distrito Federal, acredito, clamam por uma alternativa política para o cargo de governador que enfim venha a constituir uma novidade ética e progressista. Caso não seja novidade, que tenha necessariamente conteúdo ético e progressista. Quanto ao formato propriamente ideológico dessa alternativa, minha expectativa é de que ela pudesse vir a reunir propostas identificadas tanto com a esquerda como com a direita (heresia?). Uma alternativa que viesse a pôr efetivamente em prática, se solicitada a colaborar pelo eleitorado (seja no Executivo, seja no Legislativo), a melhor proposta possível para cada demanda, desde que atendidos os critérios — mínimos e essenciais — da igualdade perante a lei, da liberdade, da solidariedade, da promoção social, do respeito à diversidade cultural, da sustentabilidade ambiental, da ética e do interesse público. Uma alternativa, portanto, que se identificasse ideologicamente com o “centro”, desdobrando-se, quem sabe, num “centro ético, democrático e progressista” (penso que se deva ter ousadia para novas formulações, inclusive e sobretudo emancipando-se da atual e persistente “doxa” brasileira — e tão brasiliense, aliás — de demonizar qualquer conteúdo político-ideológico que exiba um mínimo que seja de índole liberal, ou de direita). Tal alternativa política, evidentemente, viria a significar uma clara e manifesta oposição a Joaquim Roriz e ao grupo político que lhe dá sustentação, em face do perfil populista e clientelista (para não me alongar sobre outras adjetivações) de tal segmento político. No plano dessa via política imaginada (além do PDT: PV? PPS?), um nome que, a meu ver, reúne predicados suficientes para disputar o executivo local é o do deputado distrital José Antônio Reguffe (PDT), que, mais do que um discurso público bem construído (aliás, quem não o tem?), já dispõe de um distinto legado político a apresentar à população local. Legado esse que, não obstante fruto de apenas um mandato político, já permite sinalizar para a adoção permanente de critérios civilizados na aplicação do dinheiro público. Embora seja opção criticável quanto à falta de experiência em governar, não se é razoável hoje exigir-se experiência nesse quesito de quem quer que seja quando nos deparamos hoje com personagens públicos locais que são a um só tempo experientes e corruptos. O que grande parte da população do Distrito Federal exige e espera de seus representantes, creio, é que, além de serem portadores de propostas políticas virtuosas, ao mesmo tempo que agentes da concretização de tais propostas, tenham um compromisso rigoroso com a ética pública e com o princípio da legalidade. Nada mais do que isso. Uma máquina pública estruturada com excelência, com foco no interesse público, movida por um corpo de servidores públicos dignos do nome, selecionados e valorizados sob o critério meritocrático, completaria a contento, quero crer, a lacuna da falta de experiência do agente político maior — por sua vez o responsável por imprimir a devida orientação ética e política a toda a máquina. Reflexão à parte é se haveria condições favoráveis no PDT nacional e local para a realização da candidatura Reguffe ao GDF. Assunto que, por ora, não comento. Em suma: acordo do PDT com o PT aqui em Brasília, num quadro em que Reguffe somaria votos em possível campanha proporcional a candidatos do PT (muito provavelmente ele próprio elegendo-se), numa aliança em que se beneficiariam os candidatos a governador e a presidente do PT, tudo isso, a meu ver (numa compreensão política muito pessoal, cujas razões, quero reiterar, procurarei detalhar pouco a pouco neste blog), conspira contra a ética e o interesse público — além de eternizar uma polarização política em Brasília que deixa refém grande parte da população local, subtraindo dessa mesma população a oportunidade de vivenciar um novo e melhor debate político, de ter, quem sabe, um governo de outro caráter político. É de se reparar que não aceito avaliar, EM SI, qual a melhor estratégia para eleição dos correligionários A ou B, pois isso consubstanciaria eleitoralismo (sempre infame, a meu ver). Como ilustração, e limitando-me às duas maiores expressões do PDT aqui em Brasília, desejo que tanto o deputado Reguffe como o senador Cristovam Buarque tenham cargos em 2011, sejam quais forem esses cargos, mas que antes cumpram o dever político-moral de examinar a política do aqui-agora como um pequeníssimo momento de um processo histórico que segue além, tal qual o observador que procura enxergar além da árvore. Se ambos, e o próprio PDT, julgam que a aliança com o PT é parte do cumprimento desse dever — um dever que pressupõe necessariamente as melhores ações políticas possíveis em prol da coletividade —, respeito, mas penso de maneira totalmente diversa.
[11/3/2010] Lê-se nos jornais que o senador Cristovam Buarque aceitaria concorrer ao GDF sob duas condições: primeiro, que Joaquim Roriz fosse realmente candidato oponente; e segundo, que não houvesse possibilidade de reunir as chamadas “esquerdas” em chapa única. Quanto à primeira condição, não acho relevante discutir. Quanto à segunda, discordo frontalmente do senador, e isso pelos motivos acima relacionados — razão, aliás, da minha dissidência partidária —, ou seja, a decisão no sentido da candidatura própria do PDT nos termos em que imagino não deve ficar a reboque da decisão de nenhum outro partido ou campo político, sobretudo do PT, o que não sugere evitar conversações políticas com outros partidos, tal como vem ocorrendo (com representantes do PSB, PCdoB, PMDB, PV, PPS e PRB). Penso ser necessário, repito mais uma vez, e indo um pouco mais além na reflexão, que se ofereça uma nova alternativa política e eleitoral a Brasília em absoluta oposição a Roriz — inclusive àqueles que deste se desgarraram (por exemplo, Tadeu Filippelli e Gim Argello) — e ao PT — tendo-se a devida cautela nas composições com partidos que costumam quase sempre orbitar em torno deste, tanto no âmbito político como no eleitoral (PCdoB, PSB). Há quem possa vir a interpretar que eu estaria a propor uma “política de exclusão”, ou “de vetos”, à moda PT de antigamente. Longe de se tratar disso. Trata-se, sim, da proposição de uma política de afirmação, assentada em critérios objetivos. Que sejam construídas coalizões! Mas que sejam coerentes a um eixo de ideias, aliás, um novo eixo de ideias. Quanto à possibilidade de ser Cristovam o candidato escolhido dessa nova aliança (e não Reguffe ou outro nome de outro partido), tenho o seguinte pensamento: quem pode o mais, pode o menos; isto é, quem tem preparo para postular a presidência da República, o tem para postular o GDF. O que espero é que tal possibilidade (ainda que não seja Cristovam o cabeça de chapa), ventilada em encontros com as representações dos partidos supramencionados, não se travista de chantagem pré-eleitoral dirigida ao PT, no sentido de que se este partido não abrir a chapa majoritária para aqueles partidos, em condição de vantagem para eles, as “esquerdas” concorrerão divididas nas eleições — esta, aliás, é uma das leituras correntes que se fazem desse arranjo, até hoje não desmentida. Provoco: se for verdadeira essa leitura, quem há — entre os proponentes da chantagem — de falar com autoridade sobre ética? E concluindo com um pensamento restrito ao cálculo frio das eleições, sem considerar, portanto, a questão programática: a propalada “união das esquerdas” já no primeiro turno, com o PT na cabeça, se pode ser suficiente para propiciar a eleição, no seio dessa coligação, de um candidato a senador, não o é para a eleição do candidato a governador. O que quero dizer com isso: que não enxergo — na minha ótica — mal menor entre PT e Roriz. Que o Distrito Federal, a se realizar tal quadro, se prepare para a torrente de votos inválidos a governador, em grande parte potencialmente destinados a uma opção política que reunisse as virtudes acima relacionadas.
[7/4/2010] Confirmou-se meu receio: segundo o noticiário político, o acordo de aliança entre o PDT e o PT para as próximas eleições no DF foi fechado. Segue nota de Luiz Carlos Azedo, colunista do Correio Braziliense: “Martelo. O PDT fechou o acordo com o PT. Cristovam Buarque será candidato ao Senado na chapa do petista Agnelo Queiroz, mas a dobradinha com o deputado Geraldo Magela na segunda vaga de senador está descartada. A cúpula pedetista prefere o nome do deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB). O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente do PDT, conduziu o acordo a pedido do presidente Lula.” O acordo atendeu, portanto, aos interesses políticos do PDT, seções nacional e local (pergunto-me, a propósito, se a base do partido aqui no DF foi ouvida nesse acordo, ou pré-acordo). O acordo atendeu também aos interesses do PT, pois este partido certamente tem motivos consistentes para temer uma candidatura concorrente ao GDF seja de Cristovam, seja de Reguffe. Retirando-se da disputa ambas essas alternativas — devem calcular os petistas —, o caminho de Agnelo (PT) fica desobstruído para polarizar com Roriz e consequentemente vencer. Mencionado acordo atendeu especialmente a uma demanda particular do senador Cristovam: de que sejam distribuídos os outros três cargos majoritários da chapa — de vice-presidente e de dois senadores — para os outros partidos da chamada frente de esquerda, o que redunda em o próprio Cristovam pleitear a reeleição ao Senado numa suposta condição vantajosa, pois não teria um concorrente petista disputando o mesmo cargo. Observo: não pretendo em absoluto diminuir a legitimidade de Cristovam em postular a reeleição ao Senado, pois estou ciente da importância de ele dar prosseguimento à nobilíssima luta que trava naquela Casa por causas de enorme relevância social; vale relembrar que são cerca de 100 os projetos de lei por ele apresentados cuja tramitação reclama acompanhamento constante e direto. O que questiono é “como” Cristovam e o PDT-DF pretendem atingir esse objetivo. Além do mais, o acordo PT-PDT em Brasília não me parece coerente com as mais conhecidas posições políticas de Cristovam recentemente adotadas no Senado perante algumas resoluções de Lula e do PT. Uma outra questão a considerar nesse processo todo é qual a medida da vontade de Cristovam, do PDT-DF e do PDT nacional para a realização do mencionado acordo. Há casamento de expectativas? Há espaço possível para contestações? Nessa mesma frente de esquerda, esperam os pedetistas envolvidos no acordo que o deputado Reguffe seja candidato a deputado federal. Reguffe, a propósito, não estava presente à tal reunião que fechou a aliança. Indago: ele é favorável a tal acordo? Ou sigo o ditado de que “quem cala consente”? Em suma, fica claro que ambos os partidos, PT e PDT, estão satisfeitos com o acordo, pelo menos a continuarem aquelas bases acertadas. Combinação de conveniências eleitorais? Da parte do PT, não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. Este partido vem demonstrando que vale tudo para alcançar o poder (ou nele permanecer). Que o diga, para ficar somente em dois exemplos (dentre inúmeros), a recente proteção política concedida, em momentos diferentes, a Renan Calheiros e a José Sarney, tudo pelo apoio do PMDB, ao custo de a ética mais uma vez ser vilipendiada (aliás, ética, para aquele partido, depois que chegou ao poder federal, tornou-se assunto quase que proibido, quando não um instrumental da “direita udenista”; reconheçamos: o petismo e sua gama de simpatizantes na política, na sociedade e na imprensa foram muito competentes nessa, digamos, “desmoralização da ética”). Já da parte do PDT, imaginei que a seção local do partido pudesse apresentar um mínimo de resistência ao projeto de poder do PT (à diferença do que eu esperava da seção nacional do partido, pois desde 2007 o partido integra a base de apoio político do governo Lula). Por conseguinte, esperava do PDT-DF — que vem trabalhando, no âmbito local, na construção de um ideário renovador das práticas políticas vigentes — determinação e coragem para ir ao embate eleitoral sem se aliar ao PT, sem nele se amparar, o qual se é indiscutivelmente o partido que tem maior representatividade em Brasília — sem valorar a natureza dessa representatividade —, por outro lado não possui, a meu ver, estofo moral para liderar o progresso desta cidade. Brasília hoje se encontra numa condição política singular, momento em que as lideranças políticas com um mínimo de responsabilidade — e que sejam necessariamente inatacáveis no tocante ao pressuposto ético — deveriam se apresentar ao escrutínio da população para missões mais audazes (ainda que sob a ameaça de não conseguirem conquistar mandato), em vez de aceitarem ser caudatárias de terceiros não confiáveis. Além do mais, enquanto os outros partidos — aqueles com ainda algum estoque de credibilidade, em especial o PDT (e aqui incluiria também o PPS e o PV) — não se apresentarem ao eleitorado local para a disputa dessa liderança (na melhor das hipóteses, coligando-se entre si), mantém-se a mesma ordem política de coisas.
[31/5/2010] Diante da consolidação da aliança política entre o PDT e o PT no Distrito Federal, e em face das razões acima estabelecidas, anuncio minha desfiliação do PDT. Não haveria em absoluto nenhum problema em ser dissidente da posição majoritária, desde que restasse preservada uma autêntica e essencial identificação com o programa partidário para além da reforma radical da educação pública. Requisito que, ao me filiar ao partido no final do ano passado, lamentavelmente não cumpri. Um claro equívoco, que assumo. Havia, sim, uma identificação substantiva, porém direcionada a um determinado projeto político (presumo que razoavelmente esclarecido nas linhas acima), que não se realizou. De tudo, uma constatação: o destino, sempre sábio, logra realinhar minhas ideias com outra (e definitiva, quero crer) realidade programática (verde democrática), resgatando a coerência antes perdida.
[11/3/2010] Lê-se nos jornais que o senador Cristovam Buarque aceitaria concorrer ao GDF sob duas condições: primeiro, que Joaquim Roriz fosse realmente candidato oponente; e segundo, que não houvesse possibilidade de reunir as chamadas “esquerdas” em chapa única. Quanto à primeira condição, não acho relevante discutir. Quanto à segunda, discordo frontalmente do senador, e isso pelos motivos acima relacionados — razão, aliás, da minha dissidência partidária —, ou seja, a decisão no sentido da candidatura própria do PDT nos termos em que imagino não deve ficar a reboque da decisão de nenhum outro partido ou campo político, sobretudo do PT, o que não sugere evitar conversações políticas com outros partidos, tal como vem ocorrendo (com representantes do PSB, PCdoB, PMDB, PV, PPS e PRB). Penso ser necessário, repito mais uma vez, e indo um pouco mais além na reflexão, que se ofereça uma nova alternativa política e eleitoral a Brasília em absoluta oposição a Roriz — inclusive àqueles que deste se desgarraram (por exemplo, Tadeu Filippelli e Gim Argello) — e ao PT — tendo-se a devida cautela nas composições com partidos que costumam quase sempre orbitar em torno deste, tanto no âmbito político como no eleitoral (PCdoB, PSB). Há quem possa vir a interpretar que eu estaria a propor uma “política de exclusão”, ou “de vetos”, à moda PT de antigamente. Longe de se tratar disso. Trata-se, sim, da proposição de uma política de afirmação, assentada em critérios objetivos. Que sejam construídas coalizões! Mas que sejam coerentes a um eixo de ideias, aliás, um novo eixo de ideias. Quanto à possibilidade de ser Cristovam o candidato escolhido dessa nova aliança (e não Reguffe ou outro nome de outro partido), tenho o seguinte pensamento: quem pode o mais, pode o menos; isto é, quem tem preparo para postular a presidência da República, o tem para postular o GDF. O que espero é que tal possibilidade (ainda que não seja Cristovam o cabeça de chapa), ventilada em encontros com as representações dos partidos supramencionados, não se travista de chantagem pré-eleitoral dirigida ao PT, no sentido de que se este partido não abrir a chapa majoritária para aqueles partidos, em condição de vantagem para eles, as “esquerdas” concorrerão divididas nas eleições — esta, aliás, é uma das leituras correntes que se fazem desse arranjo, até hoje não desmentida. Provoco: se for verdadeira essa leitura, quem há — entre os proponentes da chantagem — de falar com autoridade sobre ética? E concluindo com um pensamento restrito ao cálculo frio das eleições, sem considerar, portanto, a questão programática: a propalada “união das esquerdas” já no primeiro turno, com o PT na cabeça, se pode ser suficiente para propiciar a eleição, no seio dessa coligação, de um candidato a senador, não o é para a eleição do candidato a governador. O que quero dizer com isso: que não enxergo — na minha ótica — mal menor entre PT e Roriz. Que o Distrito Federal, a se realizar tal quadro, se prepare para a torrente de votos inválidos a governador, em grande parte potencialmente destinados a uma opção política que reunisse as virtudes acima relacionadas.
[7/4/2010] Confirmou-se meu receio: segundo o noticiário político, o acordo de aliança entre o PDT e o PT para as próximas eleições no DF foi fechado. Segue nota de Luiz Carlos Azedo, colunista do Correio Braziliense: “Martelo. O PDT fechou o acordo com o PT. Cristovam Buarque será candidato ao Senado na chapa do petista Agnelo Queiroz, mas a dobradinha com o deputado Geraldo Magela na segunda vaga de senador está descartada. A cúpula pedetista prefere o nome do deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB). O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente do PDT, conduziu o acordo a pedido do presidente Lula.” O acordo atendeu, portanto, aos interesses políticos do PDT, seções nacional e local (pergunto-me, a propósito, se a base do partido aqui no DF foi ouvida nesse acordo, ou pré-acordo). O acordo atendeu também aos interesses do PT, pois este partido certamente tem motivos consistentes para temer uma candidatura concorrente ao GDF seja de Cristovam, seja de Reguffe. Retirando-se da disputa ambas essas alternativas — devem calcular os petistas —, o caminho de Agnelo (PT) fica desobstruído para polarizar com Roriz e consequentemente vencer. Mencionado acordo atendeu especialmente a uma demanda particular do senador Cristovam: de que sejam distribuídos os outros três cargos majoritários da chapa — de vice-presidente e de dois senadores — para os outros partidos da chamada frente de esquerda, o que redunda em o próprio Cristovam pleitear a reeleição ao Senado numa suposta condição vantajosa, pois não teria um concorrente petista disputando o mesmo cargo. Observo: não pretendo em absoluto diminuir a legitimidade de Cristovam em postular a reeleição ao Senado, pois estou ciente da importância de ele dar prosseguimento à nobilíssima luta que trava naquela Casa por causas de enorme relevância social; vale relembrar que são cerca de 100 os projetos de lei por ele apresentados cuja tramitação reclama acompanhamento constante e direto. O que questiono é “como” Cristovam e o PDT-DF pretendem atingir esse objetivo. Além do mais, o acordo PT-PDT em Brasília não me parece coerente com as mais conhecidas posições políticas de Cristovam recentemente adotadas no Senado perante algumas resoluções de Lula e do PT. Uma outra questão a considerar nesse processo todo é qual a medida da vontade de Cristovam, do PDT-DF e do PDT nacional para a realização do mencionado acordo. Há casamento de expectativas? Há espaço possível para contestações? Nessa mesma frente de esquerda, esperam os pedetistas envolvidos no acordo que o deputado Reguffe seja candidato a deputado federal. Reguffe, a propósito, não estava presente à tal reunião que fechou a aliança. Indago: ele é favorável a tal acordo? Ou sigo o ditado de que “quem cala consente”? Em suma, fica claro que ambos os partidos, PT e PDT, estão satisfeitos com o acordo, pelo menos a continuarem aquelas bases acertadas. Combinação de conveniências eleitorais? Da parte do PT, não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. Este partido vem demonstrando que vale tudo para alcançar o poder (ou nele permanecer). Que o diga, para ficar somente em dois exemplos (dentre inúmeros), a recente proteção política concedida, em momentos diferentes, a Renan Calheiros e a José Sarney, tudo pelo apoio do PMDB, ao custo de a ética mais uma vez ser vilipendiada (aliás, ética, para aquele partido, depois que chegou ao poder federal, tornou-se assunto quase que proibido, quando não um instrumental da “direita udenista”; reconheçamos: o petismo e sua gama de simpatizantes na política, na sociedade e na imprensa foram muito competentes nessa, digamos, “desmoralização da ética”). Já da parte do PDT, imaginei que a seção local do partido pudesse apresentar um mínimo de resistência ao projeto de poder do PT (à diferença do que eu esperava da seção nacional do partido, pois desde 2007 o partido integra a base de apoio político do governo Lula). Por conseguinte, esperava do PDT-DF — que vem trabalhando, no âmbito local, na construção de um ideário renovador das práticas políticas vigentes — determinação e coragem para ir ao embate eleitoral sem se aliar ao PT, sem nele se amparar, o qual se é indiscutivelmente o partido que tem maior representatividade em Brasília — sem valorar a natureza dessa representatividade —, por outro lado não possui, a meu ver, estofo moral para liderar o progresso desta cidade. Brasília hoje se encontra numa condição política singular, momento em que as lideranças políticas com um mínimo de responsabilidade — e que sejam necessariamente inatacáveis no tocante ao pressuposto ético — deveriam se apresentar ao escrutínio da população para missões mais audazes (ainda que sob a ameaça de não conseguirem conquistar mandato), em vez de aceitarem ser caudatárias de terceiros não confiáveis. Além do mais, enquanto os outros partidos — aqueles com ainda algum estoque de credibilidade, em especial o PDT (e aqui incluiria também o PPS e o PV) — não se apresentarem ao eleitorado local para a disputa dessa liderança (na melhor das hipóteses, coligando-se entre si), mantém-se a mesma ordem política de coisas.
[31/5/2010] Diante da consolidação da aliança política entre o PDT e o PT no Distrito Federal, e em face das razões acima estabelecidas, anuncio minha desfiliação do PDT. Não haveria em absoluto nenhum problema em ser dissidente da posição majoritária, desde que restasse preservada uma autêntica e essencial identificação com o programa partidário para além da reforma radical da educação pública. Requisito que, ao me filiar ao partido no final do ano passado, lamentavelmente não cumpri. Um claro equívoco, que assumo. Havia, sim, uma identificação substantiva, porém direcionada a um determinado projeto político (presumo que razoavelmente esclarecido nas linhas acima), que não se realizou. De tudo, uma constatação: o destino, sempre sábio, logra realinhar minhas ideias com outra (e definitiva, quero crer) realidade programática (verde democrática), resgatando a coerência antes perdida.
Reinaldo Azevedo e eu
Desde 2004 costumo ler as crônicas políticas de Reinaldo Azevedo. Ideologicamente, tenho concordâncias e discordâncias com ele. Ele, de direita; eu, de centro (pendendo ora para a direita, ora para a esquerda). Muitos afirmam: "Dizer-se de centro é uma maneira dissimulada de não se assumir de direita." De minha parte, fosse o caso, não teria nenhum problema em me assumir como tal. Até porque me considero de direita em alguns temas. Se é que tais referências ainda sejam válidas como classificação político-ideológica. Mas não é disso que quero tratar aqui. E sim expor a opinião pessoal de que Reinaldo Azevedo, na condição de cronista da realidade política brasileira, distingue-se como um dos mais importantes formadores de opinião do Brasil, concorde-se ou não com ele. Para mim, ele tem um significado especial. Elegi-o como uma de minhas principais referências literárias em assuntos sobre política em função de sua cultura e lucidez intelectual, de seu jeito claro e elegante de se expressar, da lógica severa que transpira de seus textos, do rigor com os fatos, de seu humor certeiro, de sua parcialidade e não isenção declaradas com fervor ("é preciso ter cuidado com aqueles que se dizem imparciais e isentos", costuma dizer), de sua argumentação ferina contra alguns (por vezes impiedosa), não raro oportuna e fundamentada. Muito dificilmente erra. Mas atenção: não considero erro algo com que não concordo, ou mera imprecisão informativa, sanável com um simples “erramos”. Quero me referir ao compromisso que ele e todos devemos ter com a verdade. Em meu ponto de vista, já o flagrei em pelo menos uma incoerência fundamental (se correto meu juízo) [ler apêndice abaixo]. Pudera eu ler mais autores com sua qualidade. Infelizmente não me sobra tempo. Ouso recomendar: antes de qualquer tomada de posicionamento político ou montagem de opinião, é-se necessário ler Reinaldo Azevedo. Tomando-o como ponto de referência, testem-se: seja adotando posição igual ou semelhante, seja defendendo o contrário, seja sustentando um meio termo qualquer, ou até mesmo fingindo ignorá-lo, em todos esses casos — posso garantir — a argumentação e o espírito crítico sairão mais afiados.
[Apêndice — inclusão em 3/12/2010] Reinaldo Azevedo costuma dizer em seus escritos mais recentes que defendeu o impeachment de Lula à época do desvendamento do esquema que ficou conhecido como “Mensalão”, em 2005. NÃO É VERDADE. Ele só veio a defender esse expediente constitucional a partir dos meses iniciais de 2006, quando Lula, segundo as pesquisas de opinião do período, conseguira recuperar sua popularidade, alcançando os mesmos níveis pré-Mensalão. O timing político para a proposição formal do impeachment ficara no passado, algo por todos sabido (inclusive por ele, o cronista). Não bastasse isso, tal defesa revelara-se tímida, retórica, muito pouco convincente para os padrões do articulista e sua verve, o que me leva a crer que a tenha formulado somente “para constar nos anais”. Não tenho receio em afirmar que Reinaldo Azevedo era um daqueles que, em 2005, acreditavam que melhor seria deixar Lula “sangrando em praça pública” até as eleições de 2006 — imaginando que assim a vitória da oposição estaria garantida — do que, no limite da legalidade, dar efetividade ao imperativo ético de lutar pela responsabilização política do presidente, sem dúvida o maior beneficiário até então daquela operação política corrupta (flagrando-se ou não o presidente, pois responsabilização política é diferente de responsabilização judicial, a exemplo do caso Collor). Resumo da ópera: Lula foi reeleito com folga nas eleições de 2006. Perderam Reinaldo Azevedo, o PSDB, o DEM, enfim, todos aqueles que apostaram na tal “tese do sangramento”. Tese essa, sublinhe-se, covarde e eleitoreira, que o cronista hoje hipocritamente repreende. Isso é História. Que me perdoe Reinaldo Azevedo.
[Apêndice — inclusão em 3/12/2010] Reinaldo Azevedo costuma dizer em seus escritos mais recentes que defendeu o impeachment de Lula à época do desvendamento do esquema que ficou conhecido como “Mensalão”, em 2005. NÃO É VERDADE. Ele só veio a defender esse expediente constitucional a partir dos meses iniciais de 2006, quando Lula, segundo as pesquisas de opinião do período, conseguira recuperar sua popularidade, alcançando os mesmos níveis pré-Mensalão. O timing político para a proposição formal do impeachment ficara no passado, algo por todos sabido (inclusive por ele, o cronista). Não bastasse isso, tal defesa revelara-se tímida, retórica, muito pouco convincente para os padrões do articulista e sua verve, o que me leva a crer que a tenha formulado somente “para constar nos anais”. Não tenho receio em afirmar que Reinaldo Azevedo era um daqueles que, em 2005, acreditavam que melhor seria deixar Lula “sangrando em praça pública” até as eleições de 2006 — imaginando que assim a vitória da oposição estaria garantida — do que, no limite da legalidade, dar efetividade ao imperativo ético de lutar pela responsabilização política do presidente, sem dúvida o maior beneficiário até então daquela operação política corrupta (flagrando-se ou não o presidente, pois responsabilização política é diferente de responsabilização judicial, a exemplo do caso Collor). Resumo da ópera: Lula foi reeleito com folga nas eleições de 2006. Perderam Reinaldo Azevedo, o PSDB, o DEM, enfim, todos aqueles que apostaram na tal “tese do sangramento”. Tese essa, sublinhe-se, covarde e eleitoreira, que o cronista hoje hipocritamente repreende. Isso é História. Que me perdoe Reinaldo Azevedo.
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